Artigos
Lima, N. W., Vazata, P. A. V., Ostermann, F., Cavalcanti, C. J. H., & Moraes, A. G. (2019).
Educação em ciências nos tempos de pós-verdade: reflexões metafísicas a partir dos estudos das ciências de Bruno Latour.
O termo pós-verdade foi escolhido como palavra do ano pelo dicionário Oxford em 2016. Hoje, vemos a proliferação do termo fake news bem como a divulgação de visões alternativas à ciência, como o terraplanismo, terapias integrativas, e negação do aquecimento global antropogênico. Não raramente, o pós-modernismo é responsabilizado por subsidiar teoricamente tais movimentos. No presente artigo, defendemos a tese de que tanto o discurso oficial da ciência (discurso modernista) bem como algumas de suas principais críticas (inclusive o pós-modernismo) parecem ser proposições que sustentam o atual cenário de produção e proliferação de pós-verdades. A partir dos Estudos das Ciências de Bruno Latour, fazemos uma reflexão sobre as bases metafísicas de tais perspectivas e apresentamos uma explicação de como se dá a formação da “pós-verdade” através de dois mecanismos distintos, a dizer, a apresentação de uma visão reduzida da natureza da ciência e o apagamento da rede que sustenta proposições científicas. Defendemos, também, como a Educação em Ciências pode se valer de uma base metafísica alternativa, desenvolvida por Latour e colaboradores em dialogia com diferentes vertentes filosóficas e sociológicas, contribuindo para a formação de cidadãos capazes de se posicionar criticamente no cenário sociocientífico contemporâneo.
Lima, N. W., Vazata, P. A. V., Ostermann, F., Cavalcanti, C. J. H., & Moraes, A. G. (2019). Educação em ciências nos tempos de pós-verdade: reflexões metafísicas a partir dos estudos das ciências de Bruno Latour. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 155–189. https://doi.org/10.28976/1984-2686rbpec2019u155189
Vilela, M. L., & Selles, S. E. (2020).
É possível uma Educação em Ciências crítica em tempos de negacionismo científico?
Neste artigo, debatemos o negacionismo científico como uma ressignificação atual para antigas rejeições ao papel da ciência, indicando seu enraizamento ideológico num amplo movimento conservador que assola a contemporaneidade e é movido velozmente pelas redes sociais. Construímos nossa argumentação aceitando a provocação de Bruno Latour (2020) segundo a qual poderíamos ter “errado na dose” em nossas críticas à ciência e desfigurado a crítica a uma ciência positivista e empiricista ao divulgar seus meandros. Para isso, revisitamos algumas das significativas contribuições da produção em Educação em Ciências para encontrar pistas que nos levassem a inquirir mais fortemente em que medida o reforço à crítica teria contribuído para disseminar uma visão que fragilizasse a confiança na ciência. Em especial, indagamos se nossos esforços em afirmar a dúvida como constitutiva do processo de produzir o conhecimento científico teriam dado sinais de que a validade do conhecimento seria questionável. Essa incursão resultou na necessidade de reafirmar a não alienação dos sujeitos nas dinâmicas educativas, de modo a torná-los mais conscientes dos limites da ciência e mais alertas acerca da complexidade das pressões sociais que produzem o negacionismo. Concluímos apostando nas possibilidades do currículo narrativo (GOODSON, 2019) para enfrentamento das fragilidades dos processos educativos que separam as vidas dos estudantes dos processos de aprendizagem. Ao secundarizar as alternativas de integrar conteúdos científicos com outros saberes e formas de expressão humanas, as finalidades educativas correm o risco de reforçar ações performáticas que continuam a produzir exclusão.
Vilela, M. L., & Selles, S. E. (2020). É possível uma Educação em Ciências crítica em tempos de negacionismo científico? Caderno Brasileiro de Ensino de Física, 37(3), 1722–1747. https://doi.org/10.5007/2175-7941.2020v37n3p1722
Cassiani, S., Selles, S. L. E., & Ostermann, F. (2022).
Negacionismo científico e crítica à Ciência: interrogações decoloniais.
Esse editorial aborda o tema do negacionismo científico e a crítica à Ciência sob uma perspectiva decolonial, destacando a relevância do enfrentamento da desinformação, especialmente durante a pandemia. O texto ressalta a importância de combater a propagação de fake news e questiona os limites da atividade científica, levantando a possibilidade de que críticas à Ciência possam fortalecer os argumentos dos negacionistas. Além disso, enfatiza a necessidade de solidariedade e compaixão em tempos de crise, destacando o papel fundamental da comunidade científica em promover o diálogo e a cooperação. A reflexão sobre o racismo e a busca por uma educação antirracista são temas centrais, evidenciando a urgência de enfrentar as injustiças sociais presentes na sociedade. O texto convida à reflexão sobre o papel da Ciência diante dos desafios sociais e políticos contemporâneos, ressaltando a importância de uma abordagem crítica e engajada.
Cassiani, S., Selles, S. L. E., & Ostermann, F. (2022). Negacionismo científico e crítica à Ciência: interrogações decoloniais. Ciência & Educação, 28, e22000. https://doi.org/10.1590/1516-731320220000 (Editorial)
Nascimento, M., & Massi, L. (2023).
Compreendendo o negacionismo científico a partir da teoria dos campos de Bourdieu e da perspectiva transversalista da ciência.
O episódio da fosfoetanolamina, um dos primeiros e mais institucionalizados casos de negacionismo científico, é objeto deste artigo por ilustrar a ingerência política na ciência. Neste artigo estudamos o caso a partir de estudos publicados, documentos oficiais, materiais produzidos pela imprensa, assim como postagens em redes sociais, por meio da teoria dos campos e da perspectiva da ciência transversalista, que apontam para as relações entre campos que extrapolam critérios internos ao campo científico. Como resultado, podemos compreender o negacionismo científico como um fenômeno transversalista de interpenetração entre campos. Discutimos o negacionismo como decorrência do enfraquecimento das fronteiras do campo científico apontando para sua heteronomia e procuramos ilustrar como esse caso extrapolou as dinâmicas internas do campo científico, trazendo dinâmicas transversais como forças importantes de disputa neste episódio (como a jurídica e midiática) e mostramos as relações de interpenetração entre o campo científico e os outros microcosmos sociais.
Nascimento, M., & Massi, L. (2023). Compreendendo o negacionismo científico a partir da teoria dos campos de Bourdieu e da perspectiva transversalista da ciência. Estudos de Sociologia, e023007. https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17383
Selles, S. E., do Nascimento Borba, R. C., Venancio, B., & Azevedo, M. (2024).
Negacionismo científico no currículo de Biologia do Novo Ensino Médio do estado de Minas Gerais: ideologia, conhecimento e justiça social.
Dentre as principais questões em voga no campo da Educação em Ciências estão o Novo Ensino Médio e o negacionismo científico. Articulando reflexões em torno dessas pautas, o artigo tem como objetivo investigar em que medida os currículos de Biologia prescritos no cenário de reforma do Ensino Médio oportunizam discussões e desconstruções do negacionismo científico e quais sentidos são configurados em seus documentos. Para isso, fundamenta-se teórica e metodologicamente em estudos do campo do Currículo e focaliza as narrativas sistêmicas sobre a disciplina escolar Biologia no cenário de Minas Gerais. A partir de uma pesquisa documental, o trabalho escrutina as prescrições curriculares, buscando localizar e refletir sobre os discursos presentes em documentos oficiais elaborados pelo governo mineiro a respeito do negacionismo científico e seus assuntos correlatos, como fake news e pós-verdade. A análise desenvolvida também aborda considerações sobre desdobramentos possíveis para a prática pedagógica e o trabalho docente. Conclui-se que as narrativas sistêmicas materializadas nos documentos oficiais voltados ao ensino de Biologia em Minas Gerais são evasivas em relação ao enfrentamento do negacionismo científico, negligenciando o fomento crítico à construção de conceitos e valores científicos e epistêmicos por professores e estudantes. Por outro lado, tais narrativas investem em uma lógica neotecnicista e instrumental que se orienta pela pedagogia das competências, condizente com perspectivas educacionais alinhadas à lógica de formação mercadológica que vai de encontro à proposta de formação crítica, cidadã e emancipadora há décadas defendida pela pesquisa em Educação em Ciências.
Selles, S. E., do Nascimento Borba, R. C., Venancio, B., & Azevedo, M. (2024). Negacionismo científico no currículo de Biologia do Novo Ensino Médio do estado de Minas Gerais: ideologia, conhecimento e justiça social. Revista Ponto de Vista, 13(2), 01–22. https://doi.org/10.47328/rpv.v13i2.16897
Rodrigues, D. A. M., Lorenzetti, L., Selles, S. E. (2025)
Enfrentamento ao negacionismo científico e a promoção da alfabetização científica e tecnológica nos currículos estaduais de ciências do Nordeste brasileiro
Objetiva-se compreender o processo de estabilidade e mudança explicitados em currículos estaduais de ciências da região Nordeste do Brasil após a elaboração da Base Nacional Comum Curricular, tendo em vista a problematização da alfabetização científica e tecnológica e as possibilidades de enfrentar o negacionismo científico. O trabalho foi orientado por um paradigma qualitativo e situa-se como pesquisa documental. Os currículos estaduais foram identificados no site de cada rede estadual de ensino. A análise desses documentos curriculares foi mediada pela Análise Textual Discursiva. Apresentam-se três categorias: 1. Combate incipiente a “fake news”; 2. Conhecimento científico como uma construção histórica, cultural, política e ideológica; e 3. Sentidos contraditórios sobre a alfabetização e o letramento científico. Concluímos que os novos currículos de ciências precisam explicitar o negacionismo científico como um dos principais desafios do século XXI.
Rodrigues, D. A. M., Sandra, L. L., & Selles, E. (2025). Enfrentamento ao negacionismo científico e a promoção da alfabetização científica e tecnológica nos currículos estaduais de ciências do Nordeste brasileiro. REEC: Revista electrónica de enseñanza de las ciencias, 24(1), 99-122. http://reec.uvigo.es/volumenes/volumen24/REEC_24_01_06_ex2222_1094.pdf
